São inúmeras as referências a casos em que o acompanhamento e os programas de REABILITAÇÃO após a COVID-19 têm sido fundamentais na avaliação precoce das sequelas provocadas por esta doença.
De acordo com o conhecimento disponível sobre a doença, sabe-se já que, até 2/3 dos adultos com Covid-19 não grave, apresentam queixas durante períodos até 2 meses depois da infeção, independentemente dos outros casos mais graves.
Até agora, parece ser a partir das 6 a 8 semanas a altura ideal para avaliar potenciais impactos e necessidade de reabilitação, qualquer que seja a apresentação clínica inicial, se bem que alguns sintomas persistam a longo prazo, nomeadamente problemas cerebrais, pulmonares, cardíacos, cardiovasculares e do aparelho digestivo (fígado, pâncreas e renais).
Doença sistémica, são os pulmões uma espécie de "marca zero" para a Covid-19. O vírus consegue atravessar a nossa barreira imunológica e instalar-se no pulmão. São já bem conhecidas as alterações pulmonares condicionando alterações funcionais respiratórias que se traduzem em sintomas que persistem após a infeção, astenia e dispneia que pode ser apenas para grandes esforços ou simplesmente para as pequenas tarefas do dia-a-dia ou em situações bastante mais graves como a FIBROSE PULMONAR.
Umas possíveis sinalizadoras das regiões mais vulneráveis do corpo seriam aquelas ricas em recetores chamados ECA2 (enzima conversora da angiotensina 2). Com a função de regular a pressão sanguínea, estas proteínas ficam na superfície da célula e são usadas como porta de entrada pelo vírus, que utiliza a estrutura celular para se reproduzir.
Além dos pulmões (mais especificamente os alvéolos pulmonares), o ECA2 também é encontrado em órgãos como o coração, o intestino e os rins que têm sofrido lesões importantes em pacientes em estado grave e não só, razão porque se considera uma doença SISTÉMICA e NÃO APENAS RESPIRATÓRIA.
Este vírus também aumenta a tendência de coagulação do sangue. O DIMERO D (proteína usada no diagnóstico da trombose) passou a ser um marcador de gravidade para doentes com Covid-19.
Assim estão descritas ocorrências de AVC e alterações cerebrais, como a morte de neurónios, mesmo em doentes leves ou assintomáticos. O vírus pode provocar alterações na estrutura do córtex, a região do cérebro mais rica em neurónios e responsável por funções complexas como a memória, atenção, consciência e linguagem.
Têm vindo a aumentar significativamente as situações de "ADEM" - encefalomielite aguda disseminada, além de outros sinais neurológicos.
Cientistas afirmam que: A SAÚDE MENTAL VAI SER A GRANDE PANDEMIA DESTE SÉCULO!
Também são conhecidas as lesões provocadas por fatores indiretos:
1º— A " tempestade inflamatória " que o sistema imunológico gera para tentar combater o vírus, inundando os organismos de citocinas, que acabam por lesionar esses órgãos;
2º— Também são conhecidas as lesões em consequência dos cuidados intensivos prolongados destes doentes.
Em virtude dos órgãos atingidos, há relatos de quem mesmo depois de recuperar da doença continua a sofrer de: fadiga extrema, fraqueza muscular (síndrome de Guillain - Barré), febre baixa, incapacidade de concentração, lapsos de memória, mudanças de humor, dificuldade em dormir, dores de cabeça, dores semelhantes a picadas de agulhas nos braços e pernas, diarreias e vómitos, perda do olfato e do paladar, dor de garganta e dificuldade em engolir, reaparecimento da diabetes e hipertensão, erupção cutânea, falta de ar, dores no peito e palpitações, depressão, ansiedade e insónias.
"Essa dicotomia entre morrer e sobreviver" é errada. Há que chamar a atenção para a necessidade urgente de discutir a REABILITAÇÃO DOS RECUPERADOS!
A ampla gama de possíveis sequelas deixadas pela Covid-19 e a dimensão da população atingida deviam transformar este processo de recuperação em uma questão mais ampla que envolvesse uma estratégia de saúde pública e assistência social e que incluísse profissionais de saúde de diferentes frentes.
Há que estabelecer com as diferentes entidades públicas e privadas um protocolo que possibilite uma avaliação global CLÍNICO, IMAGIOLÓGICO E ANALÍTICO de forma a obter um diagnóstico precoce das sequelas do doente recuperado da Covid -19.